A mochila. Que nem sequer era cor-de-rosa!
Bodka
O ano passado, fiz o Caminho Português para Santiago de Compostela.
Sei que é o que todos dizem, mas, a verdade é nunca mais se é a mesma pessoa…
Eu, menina da Cidade, toda “Barbie” nunca tinha passado por tais aventuras, e nunca fui de loucuras e improvisos, para mim tudo requer tempo e ponderação.
E a maior aventura de todas foi conciliar esse meu “perfil” com o de um Homem impulsivo, preparado para o Mato, com espírito de sobrevivência e desligado dessas “mariquices” de confortos e cadeiras fofinhas.
A escolha da mochila foi difícil.
O meu único requisito era que fosse cor-de-rosa, mas ele via a versatilidade e o conforto, e ainda as bolsas exteriores e a orientação dos fechos.
Na véspera da Saída depois de inúmeras e infinitas listas e MUITO planeamento, (se dependesse dele era meter meia dúzia de “bagulhos para a mochila e abalar”) passei horas a querer levar infinitas coisas “super importantes sem as quais não poderia viver, obviamente” e o meu namorado com toda a paciência que lhe é característica, a dizer-me que eu não precisava de 90% do que queria levar, mesmo assim depois de muita negociação chegamos a um meio termo (mais uma vez só para mim, para ele eu ainda levava 80% de coisas a mais).
Passado este passo difícil, pusemo-nos a Caminho e o Ritual da mochila começou:
Cada vez que parávamos… Ele punha a dele e ajudava-me a pôr a minha, ele punha a dele e ajudava-me a pôr a minha e mais uma vez ele punha a dele e ajudava-me a pôr a minha.
Isso durante um dia inteiro.
Numa das vezes em que tirei a mochila e aguardava que me ajudasse, ele simplesmente não ajudou.
E eu fiquei furiosa…
Com todo o cuidado me ensinou a colocar sozinha e me explicou que a mochila de cada um só a sim compete. A mochila é a continuação de ti, não um elemento externo.
Não compreendi, mas orgulhosamente comecei a tentar e verifiquei que conseguia sozinha e que ainda era mais fácil do que com ajuda!
Demorei algum tempo, até entender a verdadeira lição.
A mochila representa a dificuldade que TU estas a sentir e por isso SÓ TU a podes ultrapassar , de forma a poderes lidar com a situação.
E a TUA mochila não serve a mais ninguém.
A vida é feita de mochilas pesadas que temos que aprender a carregar ou então torná-las mais leves,
(que foi aliás o que fiz, pois deixei em Valença 50% do que levava e verifiquei que não precisava de quase nada).
E ao longo do caminho fui me apercebendo que de facto precisamos de muito pouco para viver e que sou muito mais forte que qualquer mochila pesada.
E que quanto mais a encheres, mais ela vai pesar, por isso não podemos carregar o Mundo as costas e muito menos o dos outros, temos que ir tirando tudo que é supérfluo e que não precisas.
Isto refere-se a coisas, problemas e… PESSOAS.
Hoje quando face a um problema pessoal, o outro pergunta :
- Posso te ajudar nalguma coisa?
A reposta é frequentemente :
- Não muito obrigada, é a MINHA MOCHILA..!
O ano passado fiz o Caminho Português para Santiago de Compostela e uma das minhas maiores lições, veio da minha mochila…
Que nem sequer era cor-de-rosa!